Acho que consigo entender porque os grandes mestres como os poetas, escritores, músicos possuíam tanta sensibilidade.Todas as suas admiráveis criações originavam-se nas madrugadas.Os músicos e poetas boêmios reuniam-se nos bares ao anoitecer e compunham lindas músicas e poemas enquanto bebiam e jogavam conversas fora.Incansavelmente, todas as noites,voltavam às suas casas ao amanhecer.Muitos adoeciam e faziam óbito muito cedo,mas deixaram a beleza para nosso desfrute e deleite.
Alguns dias atrás vi dois artistas conversando sobre o tema da criação.Um deles contava que acordava no meio da noite inspirado de um verso,levantava-se rápido para iniciar um novo trabalho e não perder a inspiração.Criava a letra e depois a música e só pela manhã ia dormir.Casualmente ele é filho do tão inspirado compositor João Nogueira.Por outro lado ela dizia que precisava da vida boêmia para criar e é nos bares com os amigos que suas músicas brotam.Ela é filha de Martinho da Vila,excelente artista.Suas origens,aqui no caso, não tem muito significado,o que quero é comprovar que para os artistas a criação nasce de uma forma magistral,sempre nas madrugadas.
Escrevo este texto pensando em mim e naqueles que,como eu,não temos esta virtuosidade e dons qualificativos dos artistas,somos comuns mortais e que tem as madrugadas como péssima companheira.É nas madrugadas,sempre depois de um breve sono,que somos sobressaltados pelos nossos gritos de socorro.Acordamos e aquele silêncio brutal agiganta os nossos receios,infelizmente, todos de rostos mascarados com tintas de cores berrantes e rostos disformes.Incrível como durante o dia os nossos problemas (porque todos temos um sapato apertado), passam quase que despercebidos,conseguimos empurrá-los de um lado para o outro,mas, na madrugada…. eles não nos perdoam,aparecem bem na hora que estamos vulneráveis, nos acordam e nos dominam como que para vingarem-se de nós que não os encaramos enquanto havia a luz do dia.Na madrugada o que nos parecia pequeno, toma forma descomunal e, o pior, nos faz sentir frios no estômago e mãos suadas.
Existe uma estatística que indica os dias sombrios, os domingos e as madrugadas como o período de maior índice de suicídio.Dá para compreender e concordo que a estatística esteja correta.
Atualmente, há a possibilidade de nos levantarmos e irmos até o computador distrair a nossa mente.Lá deverá estar alguém que também acordou-se com o monstro e se não estiver, temos múltiplas outras coisas para fazer.Melhor isso do que envenenarmos nosso já cansado corpo com remédios para dormir.Gosto de ler, mas, esse não é o momento propício,porque cometeremos um acinte contra o escritor,uma vez que, os gigantes disformes tomam conta do que está escrito e deturpam o trabalho daquele profissional que elaborou o livro com carinho para desfrutarmos de momentos de êxtase.Comentei este fato com uma amiga ela concordou comigo em gênero, número e grau porque o mesmo ocorria com ela e, interessantemente, argumentou que nós éramos privilegiadas e temos a liberdade de optarmos entre distrair-se no computador ou nos envenenarmos com remédios para dormirmos,e as outras pessoas que não tem as opções que temos,o que e como fazem? Não achamos a resposta adequada no momento e partimos para outros assuntos.
Espionando os meus pensamentos sobre a pergunta que ficou no ar,pensei então,que as pessoas menos favorecidas estão tão sofridas pela falta de recursos, de um modo geral, aos seus redores que não dá tempo para elas criarem mais problemas. Dormem em paz, quando podem, e vão levando a vida como podem.O nível de exigência destas pessoas não lhes possibilita ser grandioso,sobrevivem e isto lhes basta, seus monstros gigantes são reais tanto de dia como à noite.
No livro "O Poder do Agora",o autor Eckhardt Tolle, em um de seus capítulos fala que trazemos o passado e o futuro tão fortemente traçados em nosso Ego que esquecemos de viver o AGORA.Esquecemos que o AGORA é mais importante em nossas vidas porque o passado já foi o AGORA e o futuro só será vivenciado se lá, houver AGORA.Somos de uma geração oriunda de medos,angustias,ansiedades,frustrações e depressões dos quais não nos permitimos relaxar e vivenciarmos o momento que estamos e sermos perceptíveis aos sons,objetos, espaço até mesmo aos batimentos do coração.Remoemos o passado ou estamos,já agora, vivenciando um futuro incerto.
As pessoas necessitadas são humildes de recursos,de espírito são muito fortes porque vivem em plena e total consciência de viver o Agora, na luta incansável da sobrevivência.Não têm tempo de viver do passado e tampouco alimentar-se do futuro porque tudo o que possuem é a intensão de salvarem-se agora das agruras diárias que a vida lhes ofertou.Não são poucas as pessoas deste enorme país que de um dia para o outro perdem.Quando digo perdem não refiro -me apenas aos danos materiais,refiro-me a valores emocionais desestruturadores e degradadores da psique humana.Muitos deles deitam-se com seu marido, esposa, filhos ou parentes e amanhecem sem nada e sem alguém que eles amam. Desnecessário seria enumerar fatos porque todos os dias a mídia nos fornece relatos,lamentavelmente sem trégua, e o que é pior sem as soluções.Resta aos necessitados poucas horas para dormirem e acordarem(se acordarem)na manhã seguinte para cumprir a sua missão :sobreviver e agonizar.São nas pessoas humildes que vivenciamos e observamos a leveza do Ser.
Como não faço parte de nenhuma Academia de Imortais,quando ocorrem as noites assombradas por problemas para serem resolvidos,levanto-me e vou ao computador achar alguém para conversar,jogar ou escrever,enfim,vivenciar o meu Agora.Sonhar com o futuro é desperdício do momento,viver do passado,já foi e mais nada há para solucionar.O que foi bem, ótimo;o que foi mal,não será recuperado.(elpis)
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