sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Despertar

Sempre fantasiei que ao nascermos trazemos em nossas mãos fechadas um mapa invisível. Eis porque ,os bebês nascem com as mãozinhas fechadas e bem apertadinhas dando início a sua caminhada terrena. No decorrer dos dias as suas mãos se abrem e o mapa some. O mapa, que eu imagino, contém os detalhes e as marcas da nossa trajetória aqui, em outras palavras, como queiram alguns, o mapa do nosso destino. Passam os anos e vivemos tudo o que imaginamos e também o que não imaginamos encontrar ou realizar até que chega uma determinada época que ousamos parar, e paramos, porque neste exato momento percebemos que estamos chegando quase lá, de onde viemos. Termina o tempo das realizações e planejamentos para o futuro. Aqueles que até nós vieram, ou seja, filhos ou netos, assumem o comando e a partir dali tudo será uma repetição do que já experimentamos, estão fazendo o mesmo percurso novo que nós já trilhamos. Inicia o nosso despertar, agora com o mapa  aberto e visível diante dos nossos olhos, aquele que trouxemos apertadinho nas nossas mãos fechadas. Ficamos deslumbrados em certos trechos, em outros ,decepcionados. Nele vislumbramos as mais variadas formas do caminhar, algumas avenidas lindas e floridas, vielas estreitas e escuras, esquinas que não paramos para observar os movimentos, ruas que deveríamos ter percorrido e não o fizemos. Eu sei que sempre mantemos o olhar adiante dos nossos passos, agora que já fizemos um grande percurso temos o direito de manter o olhar adiante e algumas vezes pararmos e darmos uma espiada para o que já realizamos e nos apossarmos do nosso livre -arbítrío ( -eu – e apenas eu- posso tocar a minha vida para a frente). O meu despertar é simples e o relato:
Finalmente, saio do casulo. Vejo que está escurecendo e abro a porta do meu quarto que dá para o prédio em frente. Fico lá, meio na penumbra procurando ouvir sons e observar. Ouço… No andar térreo uma senhora geme de dores, eu sei porquê. No andar de cima ouço os latidos de cão e alguém mandando-o parar quieto. Ui!  São tantos sons diferentes que eu não quero mais ouvir, então paro o olhar mais demoradamente em uma janela específica, nela alguém está debruçada e cantando uma melodia que já não ouvia e não lembrava há muito. Gostei e junto em voz baixa cantarolei com ela. Lembrei de uma prece sufi que retirei do livro “O ALEPH” de Paulo Coelho :
“Ó, Deus, quando presto atenção nas vozes dos animais, no ruído das árvores, no murmúrio das águas, no gorjeio dos pássaros, no zunido do vento ou no estrondo do trovão, percebo neles um testemunho à Tua unidade; sinto que Tu és o supremo poder, a onisciência, a suprema justiça.
Ó, Deus reconheço-Te nas provas que estou passando. Permite,ó,Deus,que Tua satisfação seja a minha satisfação. Que eu seja a Tua alegria, aquela alegria que um Pai sente por um filho. E que eu me lembre de Ti com tranquilidade e determinação, mesmo quando for difícil dizer que Te amo.”
A minha sensação de cansaço e desesperança abandonou-me. Se tivesse parado antes deste momento da minha vida ,as minhas emoções estariam imaturas, se escolhesse parar depois, elas estariam apodrecidas. Parei no momento que deveria parar. Talvez haja outros momentos de paradas e interrupções, porém agora eu só desejo uma casa com uma grande varanda voltada para um jardim, muitos livros e de vez em quando um ombro para repousar a minha cabeça cansada de tanto pensar.(elpis)

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