Gostoso é dormir ouvindo o barulho da chuva, sem vento para atrapalhar o seu curso, que possa correr as suas águas pelas ruas, telhados, plantações. E a gente imaginando tudo isso como uma faxina na nossa alma. Ficarmos só ouvindo, só sentindo no ar aquele cheiro gostoso de terra molhada, aconchegada e relaxada. Ela nos diz schiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... devagar, sem movimentos. As lembranças chegando de um tempo feliz de criança serena que acreditava que ao nosso lado havia um anjinho loiro, cabelos encaracolados e asinhas brancas a nos cuidar com carinho. Luzes apagadas, o quarto escuro a chuva, o anjo e nós. As pálpebras começando a quererem fechar os nossos olhos, e nós as forçando a abrirem, só para xeretar, espiar, ou até brincar contando os dedos até dez, forçando um novo som. Finalmente, obedecíamos os movimentos das nossas pálpebras descansadamente, sabendo que ali havia um anjo doce a nos cuidar, e como num toque mágico já havia chegado o dia porque o café funcionava, mais como um sinal sonoro do que um cheiro convidativo. Trazemos imagem com gosto infantil que nos tornam melancólicos, acompanham, e nos fortalecem, em dias de chuva calma! (elpis)