És linda. E nem
sabes quantos pedaços de beleza tive de juntar para chegar a esta
conclusão. Para te construir, tive de misturar a conspiração das searas
com a tristeza do choupo, a inquietação da cotovia com o cheiro lavado
do vento do ocidente. E a firmeza repartida dos livros, com a alegria
explosiva dos miosótis e a luz escura das violetas. Juntei depois um
pouco de ansiedade das estrelas, a paciência das casas à beira da
falésia, a espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de gesso que
se fazem à lua. Acrescentei-lhe a canção das margens e pequenos pedaços
da angústia do olhar. Não esqueci a intimidade do frio nem a dor branca
que habita o coração dos muros. Por fim, deitei na tua pele o sono dos
alperces, aos teus músculos prometi a violência das cascatas, no teu
sexo acordei a memória do universo.
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual
maneira de te amar. És linda, repito. Mas tenta não encarar o que te
digo como um elogio.(
Joaquim Pessoa)
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