sábado, 19 de agosto de 2017

Em silêncio olhava seu rosto, não me cansava de olhar. Saberia reconhecer cada sinal na sua pele, cada trejeito do rosto, às vezes curioso, às vezes fantasioso; o amava, tenho certeza. Amava, mas de alguma forma lá dentro da minha alma havia algo que afirmava que aquele rosto que parecia muitas vezes sereno escondia segredos. Vez por outra pensava atrever-me perguntar o que havia, qual a verdade que não podia revelar-me. Não podia! Não é assim que procede uma pessoa educada. Se fosse para saber, tudo já seria dito. Segredos não podem ser revelados até que se confie em alguém. E aí estava o perigo talvez eu não fosse da sua confiança, ou a voz que em mim persistia estava enganada, e como o amava essa voz que se aquietasse. Acontece que ela aquietou-se, calou-se, não mais a escutei desde que eu passei a ouvir dele várias vezes ao dia, por trinta dias que eu seria um problema para ele e sobre isso ouvir, de tanto ouvir, não me aprofundei no motivo de ser eu vista como um problema e não uma pessoa que lhe fazia companhia. Só senti dor, uma profunda dor calada. Não sentia piedade de mim, sentia humilhação por não compreender a minha voz interior.
Hoje se o visse talvez não encontrasse algo nele que lembrasse aquele rosto, lembro-me sim de perguntar-me ainda se as pessoas mudam com o tempo; se nosso olhar é diferente quando amamos, ou as pessoas são outras quando as deixamos de amar.(elpis)

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