Sempre que quero lembrar de afeto, vem a imagem do meu avô. Criança ainda, lembro da sua figura e o admirava em silêncio. Lembro que o máximo de aproximação que havia com ele era na chegada quando dizia: -Bênção vô! Ele erguia uma das mãos para beijá-la com a resposta: -"Deus te abençoe." Seguia-se um pequeno ritual formal de como tu vais e o resto era silêncio, meu avô não falava, costumava fixar os olhos no céu e de lá não o tirava. Ao lado dele no quintal havia sempre um banco vazio para quem chegasse porque ele já andava com muletas e com dificuldades.
Sentada ao seu lado respeitava o seu silêncio e não conseguia tirar os meus olhos nele. Mil imagens estalavam como fogos aos meus olhos revendo sua vida, não contada a mim, mas escutada entre alguns. Um velho imigrante italiano vindo criança trazido pelos seus pais, suas mãos agora nodosas de uma vida inteira colhendo uvas para o preparo do vinho numa cidade de interior ficou tatuada na minha memória com muito respeito e carinho.
Há muito tempo o seu silêncio terminou, mas não para mim, naquele silêncio nós nos amávamos, foi então que aprendi que no silêncio há muito afeto.
Herdei dele o silêncio, também costumo ficar olhando o céu pensando em nada.(elpis)
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