É interessante pensar que no final a maior herança que deixamos aos filhos não são os bens materiais, não são apenas os bons exemplos como me deixou meu pai, tais como honra e amor próprio. Apesar de convivermos tão pouco tempo juntos, ainda sinto saudades dele. Uma saudade carregada de nostalgia, mas uma saudade que vale a pena sentir ; lembrar que sempre fui a sua companheira inseparável nos seus momentos de lazer; lembrar da sua mão forte que me encorajava a caminhar ao seu lado; daquele homem grande que gostava de cantar e tinha uma voz linda e me escolhia para sentar ao seu lado e cantarmos juntos. Através dele aprendi a apreciar as artes, admirar e valorizar a natureza, sair de carro para passearmos sem destino cantarolando alto as suas músicas preferidas. Hoje foi um desses domingos, peguei o carro sem destino e senti a sua forte presença ao meu lado, e eu cantei, cantava alto sem destino. Dou graças por ter sido ele, enquanto vivo, o homem que me ensinou a ser sensível e ao mesmo tempo determinada, sorridente, amável sempre apesar de tudo e livre para abraçar o mundo. Abaixo uma dessas músicas que aprendi a cantar com ele.(elpis)

"Sertaneja se eu pudesse
Se papai do céu me desse
O espaço pra voar
Eu corria a natureza
E acabava com a tristeza
Só pra não te ver chorar
Na ilusão desse poema
Eu roubava um diadema
Lá do céu pra te ofertar
E onde a fonte murmureja
Eu erguia tua igreja
Dentro dela teu altar
Sertaneja
Porque choras quando eu canto?
Sertaneja
Se esse canto é todo teu
Sertaneja
Pra secar os teus olhinhos
Vai ouvir os passarinhos
Que cantam mais do que eu
A tristeza do meu pranto
É mais triste quando eu canto
A canção que eu te escrevi
E os teus olhos neste instante
Brilham mais que a mais brilhante
Das estrelas que eu já vi
Sertaneja, vou-me embora
A saudade vem agora
Alegria vem depois
Vou subir por essas serras
Construir lá em outras terras
Um ranchinho pra nós dois"