sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Nunca estaremos prontos

         Ontem estava lendo um texto da autoria a José Luís Borges que falava em "Velhice e Sabedoria". O autor lamentava que algumas coisas do passado não deveriam ter sido realizadas de maneira tão rigorosa e, se voltasse atrás, agiria de maneira diferente.

          A leitura encheu-me de energia, fui para a cama disposta a uma boa noite de sono. Vira daqui, vira dali e nada de esquecer a abordagem dada pelo escritor, suas palavras não me saiam da cabeça. Dei-me conta que estava sentindo um misto de culpa e vergonha e não aceitava sentir-me assim. Sempre, eu, sentindo-me culpada e, por conseguinte, envergonhada. Forçava os olhos para que se fechassem e assim conseguir dormir, eles não obedeciam. Resolvi desistir e refletir no por quê de estar tão mexida, com emoções querendo saltitar para fora do me cérebro. Não me restou outra alternativa senão levantar-me e pensar sobre o assunto. Eu não me sinto velha, desejo realizar muitos projetos e sou saudável. Eu estou em tempo de descanso e de usufruir de bons momentos com alegria. Ainda imagino e visualizo os meus dias futuros. Refletia....

           Lembrei-me que quando era uma garota ainda, eu falava que prepararia a minha velhice, estaria plena e realizada, observando os jovens e pensando que eles estariam com inveja de ter vencido todos os obstáculos que eles ainda teriam que passar. Acabei convencida pelas sábias palavras do grande escritor.

            Na juventude, sonhamos muito e realizamos pouco. Na velhice queremos realizar muito, mas, já não temos sonhos. Nos damos conta que não fizemos tudo o que desejávamos e nos resta acomodar nossos pensamentos num cantinho para que eles não nos aborreçam com cobranças do nosso passado. Pensei na vergonha e na culpa que sentia. Descobri que a culpa não vem só do fato de não termos vontade de realizarmos mais na juventude, mas do fato de termos realizado  de maneira errada ou de não termos tido tempo para realizá-los. A vergonha vem do fato de nos sentirmos impotentes de realizá-los agora que estamos no outono de nossas vidas.

            Tantas coisas deixadas para trás e não podemos fazer o caminho inverso para recolhê-las e realizá-las. Tantas coisas feitas, mas não realizadas, que poderiam estar com frutos maduros e doces. Tantas coisas realizadas de forma errada.

            Concluí que não mais nos interessa ficarmos divagando sobre como deveríamos ter agido em tais e quais situações. O que verdadeiramente importa é que tivemos responsabilidades em nossas mãos e escolhemos juntar algumas e realizá-las a tempo de tê-las quando nos falta pouco para terminarmos a nossa caminhada. Importa, sim, o prazer de sabermos que o que estamos colhendo foi o melhor que conseguimos realizar na juventude. O que ficou sem realizações não pode fazer parte do nosso presente porque tudo tem seu devido tempo de realizações e, como se não bastasse, carregamos a incerteza se os jovens de agora o farão.

            Consegui deitar-me e dormir sem culpas ou vergonha, porque nunca estaremos prontos.(elpis)

                                    

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